Poeta Mário Querino 16/09/2019 |
A árvore que sofrera
Uma dor terrível por
Mudar as suas folhas,
Ouvia xingo de senhor
Gari, que achava ruim
Pegar as folhas na rua.
Daí então, ele xingava
Por causa da vida sua.
O Gari não notava não,
A dor que ela passava
Para mudar de folhas,
Por isso ele lhe xingava.
Mas a árvore cada dia
Mais folhas jogava
Com tamanha dor sim,
Pior quando escutava
Esse senhor Gari xingar
Sem algum sentimento
No seu cruel coração
E nem o conhecimento.
Daí a árvore disse: “Dou
Trabalho de ano em ano,
É a mais pura verdade,
Neste cantinho baiano.
Se averiguasse a varoa
Que lavando... Eu sei,
Roupa sim, todo dia,
Toda semana, todo mês
E todo ano, até obtiver
Força. Quantas roupas
Troca por dia, semana,
Mês e ano? Fica louca
A varoa para lavar sim.
De fato, ela não saberá
Quantas vezes troca
De roupa, sem ganhar
Nenhum gabo do cara.
Mas ela fala muito bem:
“Essa quantia só Deus
Sabe as vezes que tem,
Por que todo dia eu
Estou lavando cueca
Suja, camisa, calça
Seu sapato. Na certa
Muitas coisas eu lavo
Para vê-lo cheiroso,
E ele nem agradece
E nem fala ao povo,
Me elogiando alegre,
Só diz que é obrigação
Viver na pia fazendo
Esse labor no sertão.”
Então a árvore disse:
“Hoje, estou de roupa
Nova, breve de flores
E frutos, e a tua boca
Comerá debaixo sim.
O Sol será bem quente,
Certamente no verão
E esse senhor contente
Vem e ficará debaixo
De mim, e comerá
Do meu fruto ditoso,
E eu querendo indagar:
Ei cara, o que fazes
Aqui debaixo de mim,
Ainda com a ousadia,
Sugando frutos assim?
Coma, estou pra servir,
E não para ser servida.”
A árvore deixou o cara
Cruel encher a barriga,
E ainda ganhou grana
Pública sem fazer nada.
Pois foi com a vassoura
E não viu folhas jogadas...
Claro, da sua parte não.
Agora, então, ele só fica
Com a cara para cima,
Ganhando grana ilícita.
Se o povo se educasse
À partir de agora,
Com certeza, o Gari
Iria do ofício embora.
Porque não agradeceu
Nem a Árvore que faz
Sua mudança com dor
E as suas folhas caem.
Então pare para refletir:
Se tivessem lhe cortado
E a rua estivesse limpa,
Estarias desempregado
Com este Sol ardente
Sobre a vida bondosa.
Porém, a sua sombra,
Suas flores cheirosas
E os frutos agradáveis,
Fazem dizeres assim:
‘Obrigado, ó meu Deus
Por ter dado a mim
Uma árvore tão linda,
Sombrosa, cheirosa
E com frutos gostosos,
Esta árvore é bondosa!’
Então, a Árvore gosta
Muito até de quem atira
Pedras nela toda hora
Por ela ser uma caipira.”
Mário Querino – Poeta de
Deus
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