sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

PARA QUE TANTO ACÚMULO DE GRÃOS NO CELEIRO, E NA PORTA DO SEPULCRO NÃO ENTRAR NENHUM? NÃO SERIA MELHOR USÁ-LOS ENQUANTO HÁ PRAZER?

Poeta Mário Querino 06/12/2019



Numa cidadezinha havia
Um casal de idosos sim,
Insatisfeitos conviviam
E no lar surgia algo ruim.


Um dia criaram uma briga
Que D. Maria da Penha,
Deveria se meter na vida
Dos 2. Teve pau de lenha


Nas mãos da velhinha
Para bater sem perdão
No velhinho que tinha
Também o velho facão


Bem seguro na mão,
Para cortar o pescoço
Da esposa sem perdão,
Com raiva e desgosto.


Mas antes de tudo isso
Acontecer naquele lar,
Vieram os fortes ditos
Para a raiva aumentar.


Ora, nessa hora ia sim
Passando um homem
De Deus, e achou ruim
Aqueles torpes nomes.


Daí então, bateu palmas
Com bastante pressa,
Pra deixar eles na calma,
E é só isso que interessa.


Quando o velhinho abriu
Resmungando o portão,
O homem de Deus viu
Ele com um velho facão


Preso na mão e dizendo:
“Hoje, corto o pescoço
Dessa velha, está vendo
Este facão, seu moço?”


A velhinha rebateu de lá:
“E vou quebrar a cabeça
Desse velho, aqui está
O pau de lenha, mereça


Seu moço, assistir sim
Esta nossa briga agora.”
Então, tintim por tintim
Indagou para a senhora


Sim o homem de Deus:
“Por que tamanha briga
Com esse velhinho seu,
Ó minha velha querida?”  


A velhinha objetou assim:
“Moço, a Maria da Penha
Deveria olhar para mim,
Como não... Pau de lenha


Na cabeça desse velho
Que não compra nada,
Eu sempre aqui espero,
E não traz nada pra casa.


Não sei aonde ele enfia
A grana do leite e mais
Coisas, a aposentadoria
E vende até os animais,


Mas não quer comprar
Nada para mim, ó moço.” 
O velhinho rebateu de lá:
“Vou cortar o pescoço

Dessa velha, que sempre
Pega um pau de lenha
Visado a cabeça da gente,
Fiado na Maria da Penha.


Já faz quanto tempo sim,
Que o povo fala bem dela,
E tudo ficando tão ruim,
A velha, nem da panela


Quer cuidar, ó seu moço,
Como comprarei nada?
Vou cortar seu pescoço,
E Maria da Penha casa


Comigo, quem sabe, faça
Uma comida melhor sim,
E eu tenha mais graça
Com essa longe de mim.”


Ora, o homem de Deus
Crê na Maria da Penha,
Mas o conselho seu
É contra o pau de lenha.


E ainda contra o fação
Que o velhinho usava
Bem seguro na sua mão,
Para cortar a sua amada.


O que fez para acalmar
Os 2, o homem de Deus?
Ele começou a lembrar
Do passado que já viveu


A velhinha, trabalhando
E juntando seu dinheiro,
Nesse cantinho baiano
Para ter o tempo inteiro


Fama de rica e viver bem
Entre amigos e amigas,
Se preocupou também
Durante toda uma vida


No estudo dos filhos sim,
Na melhor Faculdade,
Vê-los ditosos até o fim,
Claro, numa rica cidade.


Daí ela ficando já idosa,
Seus filhos longe dela,
A idade faz preguiçosa
E não cuida da panela.


Então o velhinho já acha
Ruim a sua comida,
Isso faz parte da graça,
Melhor dizendo, da vida


Que Deus dá na Terra,
Tanto para a senhora
Neste bom pé de serra,
Que fica brigando agora,


Quanto para o senhor
Que não quer usufruir
Do fruto que já juntou,
Sabendo que ficará aqui


Nas mãos dos filhos sim,
Das noras, das filhas,
E dos genros, e seu fim
É ser levado pela trilha


Que não voltará mais.
Daí o homem de Deus,
Deixando os 2 em Paz,
Também deu sim o seu


Conselho ao senhor:
“Ó meu velho, entendo
Que o senhor já ralou
Muito e já está vivendo


Os últimos dias de vida,
Eu posso até morrer...
Mas sua varoa querida
Está no tempo de viver


Fruindo bem neste lugar,
Pois na sua mocidade
Só viveu para trabalhar,
E pôr filhos na Faculdade


Pra hoje serem mestres,
E se o senhor não usar
Bem o fruto... Apodrece,
Pois nenhum virá para cá.


Eles são mestres e não
Vão esquentar a cabeça,
Tudo isso eles venderão,
E ralou só para ser besta.


Então, tudo que a sua
Velhinha amada desejar,
Compre, que vá pra rua,
Acesse um bom celular,


Porque esta é a porção
Que Deus dá ao Homem
E a Mulher do sertão,
Pois só ficará seu nome


Na memória dos filhos,
Das noras, das filhas
E dos genros. O brilho
Dependerá da trilha


Que o Homem e Mulher
Seguirem até o final.
Então, agora, já com Fé,
Dê um abraço fraternal.


Os senhores começaram
Sim em 2, como amantes
E de tudo já desfrutaram,
Agora, são importantes


Só como amigos e irmãos.
Por isso não precisa ter
Esta tamanha confusão,
De nada a grana vai valer.”


Daí o velho pediu perdão,
E disse: “Sem você moço,
Eu iria com este facão,
De fato, corta o pescoço.”


A velha também perdoou,
E com o pau de lenha
Nas mãos assim falou:
“Ó moço, ele que venha...”


Porém, tudo terminou
Na Paz, a velha já se foi,
E pouco tempo custou
Para o seu velho ir atrás.


Mário Querino – Poeta de Deus    

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