Poeta Mário Querino 14/10/2019 |
Um homem de Deus
Foi trabalhar na casa
Duma pobre mulher,
Quando ali almoçava,
Sua filha adolescente
Atingida por soluço,
O homem de Deus
Usou seu recurso:
Fé no Senhor Jesus.
Daí perguntou assim:
“Podes comer doce?”
A moça disse: “A mim,
Nada contra não.”
O homem de Deus
Falou: “Bote na boca
Açúcar.” E ela creu,
E ficou demorando
Pôr o açúcar na boca.
O soluço aumentou
Como coisa louca.
O homem de Deus
Falou mais forte:
“Bote em nome
De Jesus.” Por sorte,
A moça com a colher
Pegou um pouco
De açúcar na lata
E com fé e gosto,
Indagou ao homem:
“Este já está bom,
Ó meu Senhor?”
O homem de dom
Que cura, rebateu:
“Bote mais um pouco
De açúcar na boca,
Vá sentindo o gosto.”
Obviamente ela fez,
E começou a comer
O seu gostoso cuscuz
Com ledice e prazer.
Como o ser humano
Vicia-se em tudo,
Que ouve, vê, cheira,
Há sabor e, sobretudo
Faz. A moça sempre
Fazia, quando o soluço
Chegava à sua vida,
Por não ter recursos.
Como o tempo vai
Passando e a pessoa
Ouve, vê cheira, sente
O sabor numa boa
E faz algo fora sim
Do limite, sem refletir,
Um dia o soluço veio
E a moça teve que ir
Procurar um Médico,
O Médico examinou
E solicitou exames.
Ao receber, o Doutor
Deu a triste notícia:
“A senhora é diabética.”
Daí, ela perguntou:
“De que origina essa
Doença incurável?”
Seu Médico objetou:
“É claro, de algo doce.”
Então ela se lembrou
Do homem de Deus,
Que mandou ela pôr
Açúcar na sua boca,
Pois o soluço chegou.
E para condenar sim
O homem de Deus,
Disse para o Doutor:
“Um senhor me deu
Em nome de Jesus,
Alvará de pôr na boca
Açúcar, eu não queira,
Mas eu estava louca,
Por motivo do soluço,
E acabei obedecendo.”
Daí, o Médico indagou:
“O cara vive fazendo
Isso com as pessoas,
Esse cara é louco?”
Ora, daí, ela objetou
Apreciando seu rosto:
“Doutor, se ele é louco,
Eu não sei, porém,
O soluço foi embora,
Sempre quando vem,
Só basta eu pôr açúcar
Na boca, e ele logo
Desaparece de mim.
Falei isso ao Psicólogo,
Ele disse que é coisa
Da minha cabeça,
Açúcar não é remédio,
Que eu me esqueça.
Agora, o senhor me diz
Que é coisa de louco.
Então, vou procurar
Esse cara com gosto
De gás, e ele vai ouvir.”
O tempo passou sim,
E a mulher ouviu falar
Sobre o cara, em fim,
Estava numa cidade
Vizinha do Distrito,
Onde ela morava.
Então, por ter o vício
De colocar açúcar
Na boca, estava sim
Com medo de ficar
Sofrendo até o fim.
E por sorte, ela viu
O homem de Deus
Na cidade vizinha,
E com o coração seu
Repleto de ira falou:
“Senhor ordenaste sim,
Eu pôr açúcar na boca,
E agora, veio a mim
O tal diabete, pior
Que o soluço, ó cara!
Psicólogo e Médico
Agora me declaram
Que esse diabete
É causado pelo doce
Ou melhor, açúcar
Que sempre trouxe
Feliz na minha vida,
Quando vem soluço.”
O homem de Deus
Disse: “Dona, escuto
Bem a sua fala irada,
Porém, eu só ordenei
Botar o bom açúcar
Na boca, não mandei
A senhora se viciar.
Quando o Senhor faz
Um milagre é único,
Não acontecerá mais.
Talvez, se a senhora
Procurasse-me a fim
De ficar boa pela fé,
Não diria mais assim:
Bote na boca açúcar,
E sim, beba um copo
D’água. A senhora fez
O que eu não gosto,
Se viciar sim em algo,
Ainda doce que seja,
O açúcar pode sim,
Dar o que não desejas.
O diabete não veio por
Causa do açúcar não,
Mas por razão do vício
Por não ter a intuição.
Pois Deus não opera
Milagre numa pessoa
Duas vezes. Por isso
Ele diz: ‘Vá numa boa
E não peques mais.
Pois se voltar a pecar,
O problema será sim
Complexo, pode levar
A pessoa até a Morte. ’
Por isso, não foi não,
O açúcar que fez mal,
E sim, o vício. Então,
Se o Psicólogo disser:
“Faça isso ou aquilo.”
Se a senhora cumprir,
Terás o viver tranquilo,
E se o Médico indicar
Um remédio bom
Para a senhora beber,
E a senhora sem dom
De Médico, querer
Usar, ao sentir dor,
Ainda parecida, vais
Censurar o Doutor.
Quem sabe, pode até
Matar-lhe duma vez.
Então o açúcar não é
Culpado. Ora, talvez,
Seja por causa sim
Da quantia do doce.
É claro, sem precisão
A senhora já trouxe
Um problema sério
Ao homem de Deus.
Porém, foi à senhora
Quem viciou o seu
Corpo. Hoje, pagarás
Um alto preço,
Por ter se viciado sim,
E isso eu desconheço.
Mário Querino – Poeta de
Deus
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